30 novembro 2007

Eliane Cantanhêde

Segue coluna, na íntegra, de Eliane Cantanhêde na Folha de S. Paulo de hoje:

BRASÍLIA - Segundo Lula, o Brasil agora é "chique", porque é do Brics, com Rússia, Índia e China, e além disso integra o grupo dos países de alto desenvolvimento humano.

Ele, porém, esqueceu de alguns "detalhes" e manteve aquela postura curiosa: vitórias são sempre dele; derrotas, dos outros. A curva do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil mostra claramente que os avanços do país são parte de um longo processo: 0,723 em 1990, 0,753 em 1995, 0,789 em 2000 e, enfim, 0,800 em 2005. Ou seja, o menor avanço em 15 anos foi justamente de 2000 para 2005.

É como Lula capitalizar a auto-suficiência do petróleo e a descoberta de um possível megacampo da Petrobras como mágicas dele. Ou, ainda, como Lula comemorar a marca de um milhão de carros da Ford na Bahia. O PT gaúcho expulsou a fábrica, e o PFL baiano pegou. A festa é do PFL (ou DEM) baiano. E não custa lembrar que o Brasil entrou no grupo de alto desenvolvimento humano como lanterninha, o último entre os 70, o que não tem nada de chique, especialmente quando comparado ao desenvolvimento econômico, também resultado de um longo processo.

No confronto com dados da realidade, a coisa fica ainda pior. Na mesma semana em que Lula estala a língua de alegria com o IDH, o país e o mundo se chocam com a história de L., a menina franzina e violentada pela vida, entregue pelas "autoridades" às feras no Pará. Essa menina não é um caso isolado. Ao contrário, sua dor chama a atenção para a situação de sabe-se lá quantas mulheres no Pará e sabe-se lá quantas mulheres e homens jogados como bichos em cadeias pelo país afora. Muitos, aliás, inocentes e sem defesa. Números são números. Siglas são siglas.

A realidade, senhor presidente, é que o Brasil vem evoluindo, sim, mas está longe, muito longe de ser "chique". Pergunte a L.

Um comentário:

Marco disse...

Enquanto Lula está falando, tudo bem, não tô nem aí para as bizarrices dele. A parte ruim é que o povão acredita. Isto, sim, é perigoso.